Tio, me dá um link, eu poderia estar roubando…

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O Fábio Seixas observou outro dia que não só há poucos links entre os blogs brasileiros, como há pouca gente lendo. Que o brasileiro não gosta de ler é um fato. O IBEI* em uma pesquisa descobriu que Buenos Aires tem mais livrarias que o Brasil inteiro. O que é curioso é que ele afirma que o brasileiro que gosta de escrever também não gosta de ler. Estava a ponto de constestar, quando me lembrei de um antigo projeto; cheguei a começar a constituir empresa, com uma amiga, íamos criar um jornal de bairro. O sonho dela era ser jornalista, dizia que adorava escrever. Quando perguntei qual seu diário favorito, ela respondeu que não lia nenhum jornal. Odiava.

Adiante ele reclama da falta de links. O Jônatas comentou a mesma coisa. Não só ninguém comenta nada, como ninguém linka pra nada. Mesmo quando o post é lido, o leitor não abre o bico. Qual o motivo disso? Tenho umas teorias…

Como acho que são dois motivos diferentes, vamos por partes.

1 – Comentários
Tenho posts com centenas de visitas e um ou dois comentários. Outros com menos visitas são razoavelmente comentados. A diferença entre eles? Os com muitas visitas sem comentários são… “ok”, “legais”, mas nada demais. Em resumo, são medianos, ou medíocres, como queiram. Mr Manson acertou na mosca com o post “é chato ser medíocre”, baseado em um excelente artigo do Fábio Cipriani no blog Serendipidade. Em resumo, mediano não vende. Mediano não chama atenção, pode ser correto, útil mas “não fez mais que a obrigação”.

Ninguém dá parabéns pra ascensorista.

O leitor só vai comentar se o post mexer com ele, para bem ou para mal. Os comentários do meu post com o vídeo do bispo macedo dando uma de Tio Patinhas rendeu ataques e defesas apaixonados. Já o link do Shockabsorber, com as tufas 3D saltitando resultou em toneladas de hits, e nenhum comentário. É um post ruim? Não, é interessante, mas não desperta grandes emoções. Mandado por MSN, resulta em um monte de gente dizendo “legal”. Só que “legal” não é o bastante pra alguém clicar no campo, preencher os dados, pensar em algo mais significativo do que “legal” e então enviar o comentário.

Esse efeito é geral. No momento que escrevo este texto, este artigo no Engadget não tinha nenhum comentário, já este aqui tinha 66 comentários feitos. Note que para uma audiência como a deles, 66 é um número ridiculamente baixo.

O comentário é um indicativo da relevância do post muito maior do que a simples visitação. Muitas vezes as visitas são irrelevantes. Imagine se estou falando numa mesma frase fotos exclusivas que tirei no sábado, do disco da Sandy e da pelada de sextas-feiras. Isso irá atrair um tráfego danado, mas sob falsa premissa. O leitor chega, olha e vai embora, em menos de 5 segundos.

2 – Link no blog dos outros é refresco
Existem várias situações que explicam a ausência de links e comentários dentro de posts, entre os blogs brasileiros. Vejamos:

2.1 – reblog
Aqui o bicho pega. Outra pesquisa do IBEI mostra que a maioria absoluta dos posts interessantes são copiados, ipsis literis, repetidos muitas vezes sem sequer citar a fonte. O “olha que legal eu achei” é opcional. Acontece inclusive com os grandes blogs, a mesma (ausência de) informação. Que dirá opinião. Muitos blogueiros escrevem, mas as teclas usadas são CTRL+C e CTRL+V. É o fenômeno do reblog. Já vi blogs de anos sem nenhum conteúdo original.

Note, não falo de plágio, como fizeram com o Glacial. Plágio a gente entende, um sujeito sem capacidade criativa quer postar algo, rouba o texto de outro, edita minimamente e publica. Tem um propósito. O reblog não. O agravante é que o reblog só vai citar um link se ele existir no texto original.

2.2 – status
O ego de alguns blogueiros só não é maior que o de alguns podcasteiros. Comentam matérias do Engadget, do BoingBoing, mas dizer que acharam algo de bom em um site como o do Ricardo Bánffy, é ruim. O cara escreve bem, já tem coluna no UOL, é um “concorrente”. Melhor não divulgar. Sim, o blogueiro nacional costuma enxergar o outro como concorrente, não como uma fonte de informação e diversidade de opinião. Escrever em cima de algo começado por outro parece não ser palatável. É o mesmo problema encontrado nos quadrinhos, a colaboração roteirista/desenhista não é tão comum aqui quanto no exterior. Todo mundo quer ser “dono” da história.

2.3 – tráfego
Ao colocar um link em um texto, existe a real possibilidade do leitor clicar nele e ir embora. Chocado? Pois é, essa é a função social dos links. Isso gera 3 tipos de textos:

  • Sem link nenhum
  • Links espalhados pelo texto
  • Links ao final do texto

Adivinhem qual o mais usado pelos blogueiros que não querem que o leitor vá embora…

2.4 – medo de polêmica
Sim. Existe uma cultura de que é feio discordar. Frases como “nunca vi um monumento em honra a um crítico” ou “se não tem algo de bom a falar sobre alguém, não fale nada” são frutos de nossa origem ibérica, paternalista. Sempre passamos a mão na cabeça. Dizer que alguém escreveu algo que não concordo é feio, muito feio. Não posso escrever um post contestando, o cidadão tratará aquilo como ofensa pessoal.

Também não é bom discordar de alguém de cujo trabalho você gosta. O Bánffy escreveu um artigo reclamando do Windows que absolutamente não se sustenta, alegando que o Windows é inferior por usar CTRL+C/CTRL+V ao invés do botão do meio do mouse, como seu Debian. Nunca ocorreu a ele que nem todo mouse tem botão do meio, e resumir todo um conceito de usabilidade a isso é ridículo.

Como é ridículo não achar qualquer artigo contestando racionalmente o texto dele.

Acho o Bánffy bem corajoso, aliás. O feedback costuma ser bem desagradável. Recentemente um post meu no MeioBit rendeu ataques pessoais de um outro membro do site, na velha máxima de que se não posso atacar as idéias, ataco a pessoa. Blogs, e mesmo sites, muito rapidamente gravitam para a mesmice. “deixa pra lá, melhor não comentar”.

Você discorda? Não vá pro comentário me xingando. Vou apagar, banir seu IP e te esculachar. Poste uma resposta, no SEU blog, de preferência racional, terei prazer em divulgar o link, como um contraponto. Infelizmente pouca gente faz isso, dá trabalho. Cansa. Melhor soltar um “viado!” no comentário e pronto.

Conclusão
Leia mais, fale mais, escreva mais. Aprenda a argumentar, gaste 5 ao invés de 1 minuto pesquisando para um post. Em todos os posts que vi sobre a Robô Feminina, todo mundo só falava do site da empresa que criou o robô. Quando fui escrever sobre o lançamento, 5 segundos de Google me trouxeram o site, acrescentando informação ao que seria só mais um reblog.

Linke, linke, linke. Não tenha medo de divulgar suas fontes. Mostre que você vai além da página de notícias de TI do Terra. (alguém ainda aguenta os lusoparlantes que só conseguem achar novidades lá e mandam links com 2 ou 3 dias de idade como se fossem a última novidade?)

Também não se preocupe com originalidade absoluta. Um assunto pode ter mais de uma visão, a sua é muito bem-vinda. Acabei de descobrir que o Leo escreveu um post exatamente na linha deste, posso processá-lo por plágio pré-cognitivo, posso apagar tudo em fúria por tempo perdido ou posso publicar do mesmo jeito, ciente de que é mais uma opinião, não a definitiva.

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* IBEI – Instituto Brasileiro de Estatísticas Inverificáveis – Use como fonte sempre que precisar repetir algo que ouviu falar mas não tem paciência de pesquisar ou que acha que pode não ser verdade e assim enfraquecer sua argumentação. Para afirmações de ordem médica, use a ACF – Academia de Ciências do Fantástico.



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