Publicidade nos blogs – estamos em 1984?

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Não estou falando em 1984 do Big Brother, mas do ano mesmo. Estou trabalhando e assistindo Bete Balanço no Canal Brasil…

Pausa para uma explicação: É um típico filme dos anos 80, com trilha sonora do Barão Vermelho, uma história bobinha e, o melhor, a Débora Bloch, no auge de seus 21 aninhos, muito pelada nua e despida, em generosas cenas de séquiço apelativo. Há razão melhor para ver um filme?

É, eu imaginava que não.

Mas fora as tufas da Debby o que chamou minha atenção foi o merchandising descarado. Sem prestar muita atenção vi propaganda da Ínega, Olimpikus, Postos Ipiranga e até Leite Ninho. O que é extremamente irônico, pois na letra da música que fala de “leite em pó” e foi usada para a base da cena onde o Hugo Carvana puxa uma lata do porta-luvas do carro, e depois oferece um papel dobrado com “leite” dentro, bem… já deu pra perceber que a referência era cocaína, né?

Visto com os olhos de hoje, chego a algumas conclusões:

1 – A Débora Bloch é uma péssima cantora e melhorou MUITO como atriz.

2 – Ela estava muito melhor no Vida Como Ela É. alguns Kg a mais ajudaram.

3 – Se o merchandising hoje fosse feito com a cara-de-pau e desfaçatez dos anos 80, os cinemas seriam depredados.

A coisa é tão descarada que há até um número de dança com a Débora Bloch e um grupo de frentistas de um posto Ipiranga. Gratuito? Completamente. Em outro momento ela está fazendo fotos para um anúncio de jeans, com direito a um descarado close na bunda, mostrando a marca – Ínega –

A impressão -que não está muito longe da verdade- é que os produtores saíam atrás de patrocínio, fechavam a grana com as empresas, então escreviam o roteiro com as cenas em volta. Assim como os patrocinadores -ruins- de blogs fazem exigências absurdas, os patrocinadores dos filmes exigiam cenas inteiras em torno de seus produtos.

O carro-tênis da Olimpikus participou de vários filmes, inclusive dos Trapalhões.

Esses, eram especialistas. No Os Trapalhões no Planalto dos Macacos o filme era quase todo patrocinado pela Ultralar -tudo a preço de banana- e às vezes a cena inteira era cheia de caixas com a marca da loja.

Era comum nos filmes nacionais uma cena cortar para uma rua, um caminhão das Mudanças Gato Preto passar, parar por alguns segundos, seguir adiante, e a cena cortar para o resto do filme.

O termo técnico para esse tipo de ação de propaganda é… “tosco”.

Hoje o merchandising no cinema está bem mais refinado. Você não paga mais para ficar exibindo na tela uma logomarca por 15 segundos, você paga para a personagem principal usar roupas da sua grife.

Em True Lies uma das cenas mais comentadas foi a do computador rodando Windows em árabe. era o 3.11, já havia realmente uma versão localizada, mas ver algo assim é bem diferente de saber.

Não foi gratuito. A Microsoft pagou e pagou bem, mas o buzz gerado valeu cada centavo.

Bill Gates aliás parece gostar desse tipo de coisa. N’As Panteras elas usam um PDA com Windows Mobile, e em Transformers um XBox360 vira um Decepticon e ataca seu dono. Isso rendeu posts em quase tudo que é blog de tecnologia do planeta.

A Apple é especialista em colocar seus equipamentos em filmes. Primeiro, por serem bonitos e fotogênicos. Segundo, pela grana e/ou disponibilização de hardware para uso no filme. Quando o acordo não é acertado, ou a Apple decide não participar do filme, às vezes Macs ainda são utilizados, mas o a logomarca da maçã iluminada é descaradamente coberta com uma fita.

Quando um merchandising descarado é tentado hoje, geralmente temos uma pequena rebelião dos escritores e atores. Em House, MD durante um episódio temos um monitor especialmente posicionado para que a marca fique visível:

O personagem principal reclama: “Por quê eu não tenho Alta Definição no meu escritório? Eu sou um chefe de departamento. Caracterização de tecidos é impossível quando os pixels são do tamanho de legos!”

Pelo visto a idéia de fazer um merchandising discreto não funcionou muito bem. Não sei se a Dell reclamou, mas Inês é morta.

O quê isso tudo tem a ver com blogs?

Eu acho que estamos hoje como os filmes nacionais na década de 80. Vivendo uma época onde o dinheiro está começando a entrar, mas nem quem paga nem quem recebe sabe exatamente como se portar.

A perspectiva futura apesar de tudo é positiva. Se o cinema nacional -e mundial- conseguiu se adaptar, se hoje temos excelentes filmes que não páram a trama para mostrar um outdoor, acredito que os blogs também achem seu formato. O leitor de blogs hoje é bem menos condescendente que o espectador de cinema dos anos 80, e ainda temos a desvantagem de não poder mostrar fotos da Débora Bloch pelada, portanto essa evolução para um modelo de publicidade que agrade todos os envolvidos será dramática, cruel e eliminará muita gente boa mas nem tanto, mas no final, acredito que vamos chegar lá.



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