Os publieditoriais que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá. Ou gorjeiam?

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Adiantando o resultado, gorjeiam.

O causo em questão é do blog This Heart of Stone, voltado para editores, fotógrafos, designers, coisa chique. Pois bem; eles publicaram um Advertorial (post pago, em inglês) sobre uma ação da Stella mcCartney.

Post publicado, dinheiro no bolso, todos felizes, certo?

Nem tanto. O cliente (na pessoa da agência) resolveu olhar o blog, e descobriu que eles são fashion, são trend, são chiques e por isso publicam conteúdo nem sempre “família”. Como uma chamada para a exposição “Talk Dirty to me”, que ocorrerá na galeria Larissa Goldston, de 26/2 a 28/3, em NY.

“Focando em peças que apresentam linguagem ou imagens sexuais, Talk Dirty to Me explora não somente a semiótica do desejo, mas também interpretações extremamente diversas e altamente pessoais de tais trabalhos. Na exibição, insinuações sexuiais variam do sugestivo ao explícito”

É, putaria da boa, abalizada como arte, como fica claro pela obra absolutamente explícita usada como ilustração do link dois parágrafos atrás.

Como, você clicou? Bem-feito, quem mandou abandonar meu texto? Mas tudo bem, se seu chefe reclamar diga que o close-up daquela BOCETA é… arte.

OK, ficou claro que pra mim um close-up de uma boceta NÃO é arte, e para os anunciantes também não é. Tanto que a agência do publieditorial escreveu para o blog pedindo que removessem… o post com a boceta.

[sonoplastia de freiada brusca]

Isso mesmo. Neste post aqui (cuidado, contém boceta) o blogueiro avisa do email recebido:

“Você poderia por favor tirar a campanha da Stella McCartney do ar o mais rápido possível? A agência está descontente por ela estar próxima a uma vagina e a quer fora do ar”

Mais adiante, a agência tenta um acordo:

Ou nós mudamos a imagem que acompanha o artigo por uma menos NSFW – ou desistimos de tudo

O post com a boceta em questão foi ar ao DUAS semanas depois do publieditorial.

Há toda uma cornucópia de piadas com blogueiros de agência que não gostam de boceta, mas eu vou passar. Estou mais assustado com a falta de tato. Imaginava que esse tipo de comportamento amador fosse restrito a mercados emergentes mas pelo visto nos EUA é a mesma coisa.

Esse bocetaGate serve um pouco de consolo, e até como refresco para o mercado publiciário nacional. Entender blogs ainda é MUITO complicado, assim como explicar blogs para os clientes.

É complicado associar sua marca a um blog que você não sabe de onde veio, não sabe quais os compromissos do autor, quais os limites. Não é televisão, onde há razoável certeza de que o sujeito não vai surtar e começar a vender camisetas I Love Hitler (tenho medo do que o Google vai trazer com essa frase). Blog não é rádio, onde há regras de conduta explícitas. Blog não tem nem censura. Na TV americana aberta, se você falar qualquer uma das 7 Palavras Proibidas, “Shit, Piss, Fuck, Cunt, CockSucker, MotherFucker e Tits” o mundo cai em sua cabeça. Em blog? Nada aconteC_#*&*$&#$ NO CARRIER+++

Um blogueiro pode ter graves problemas um dia, como eu tive com a bosta da telefônica, e no outro estar super-feliz pela mesma bosta da telefônica ter habilitado o Speedy de 4MB no meio do Carnaval.

De uma certa forma os blogueiros sérios protegemos a integridade de nosso conteúdo com muito mais vigor que a maioria dos veículos. Uma solicitação de remoção de um post é tratada como ofensa pessoal.

Pode parecer estranho, mas isso para nós É profissionalismo, pois no momento em que o blog deixar de ser pessoal, se torna mais um na multidão, apenas informando, o que agrada o anunciante mas não agrada o leitor. É uma solução de curto prazo que no final matará o blog. De fome ou de desgosto.

A solução (e não é sempre que chego a alguma conclusão em meus posts) é simples: Os anunciantes devem confiar mais em seu público. A Stella McCartney não tem que anunciar para os idiotas que vão ver uma boceta e entrar em pânico:

 “Que horror uma boceta no mesmo blog que duas semanas atrás falou da Stella McCartney, nunca mais compro nada da grife dela, estou cho-ca-da!”

Esse tipo de público é imbecil. Não replica, não influencia, não forma opinião. Esse tipo de público idiota só serve para replicar comentários ruins, mas essa replicação fica restrita a idiotas como eles.

Os anunciantes precisam apostar na INTELIGÊNCIA do público, que sabe diferenciar opinião de informação, que entende que anunciar em um blog não significa assinar embaixo de tudo que o blogueiro diz, disse e dirá até o Fim dos Tempos.

Esqueçam os idiotas, esqueçam o pessoal do #mimimi, esqueçam os pseudo-terroristas de liveblogging. Não é para eles que o blogueiro escreve nem é para eles que você anuncia.

Todo sistema de feedback sempre tem um componente de ruído. O erro é dar ouvidos a esse ruído. O erro aliás é montar toda a estrutura PRIORIZANDO o ruído.

PS: Apesar da sapaiada este post não foi patrocinado pela Frog, mas ganham link porque são legais.



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