Há diferença entre mostrar os dois lados e ser o fio-terra do jornalismo

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Existe uma corrente no jornalismo que acredita em uma imparcialidade magnânima da Imprensa, um distanciamento total que seria até justificativa pro tal dilema insolúvel de ver uma criancinha se afogando e não fazer nada para não interferir na notícia. Nesse ponto aliás um câmera resolveu o dilema de forma brilhante: Ele respondeu: “salvar ou continuar filmando? Fácil, coloco a câmera no tripé, ligo e vou salvar o moleque”.

A tal imparcialidade prega que você tem sempre que ouvir os dois lados. É justo, mas a verdade é que mesmo que toda história tenha dois lados, só por ser contra não te qualifica para ser o outro lado. Decidir quem será apresentado como oposição é tão importante quando a própria história. A credibilidade e “imparcialidade” da imprensa também deve ser julgada por essa escolha.

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É evidente que esse moleque filho de dois pais gays homosexuais terá um destino horrível: Será nerd

Vejam por exemplo o caso de Sir Elton John. Um cantor fabuloso (e Faaabuloso) que desafiou todas as convenções, paradigmas e estereótipos sociais. Não por ser gay, mas por manter uma relação estável e feliz com David Furnish. um parceiro que é do meio cinematográfico. Como apesar de ter todo o direito de engravidar (agradeçam à Frente Judaica do Povo) por não ter útero nenhum dos dois conseguiria levar uma gravidez a termo.

Apelaram para uma mãe de aluguel, uma doadora de óvulos e graças à ciência Zachary Jackson Levon Furnish-John nasceu, no dia 25 de Dezembro, Dia Internacional de Crianças Com Dois Pais, pelo visto.

Ótimo pra eles, certo?

A mídia cobriu o caso, é justo. Mostraram pessoas felizes pelos dois, pessoas indiferentes, gente que acha estranho. Tudo bem. Só que a BBC foi além. No mesmo dia em que o casal anunciou o nascimento da criança, a emissora levou ao ar uma reportagem sobre o caso. O contraponto foi uma entrevista com um Babaca de proporções continentais chamado Stephen Green.

Esse idiota (aqui entra o mimimi “você chamou o cara de idiota, perdeu a razão, isso não é argumento”. Pega na minha e balança) é um militante radical conservador fascista cujas pérolas incluem defender a pena de morte para gays em Uganda e lamentar que a Inglaterra não segue o exemplo, para “proteger as crianças”. Ele também comparou Ian Watkins, membro de uma banda pop e gay (U-AU!) a um assassino serial.

Stephen Green é um idiota com discurso religioso radical que passa o tempo todo dizendo o quanto Deus odeia gays e como eles terão um destino horrível, já que no Mundo Real Deus parece impotente (fale com Seu médico. Eu falaria) diante de gays tristes, felizes, alegres, bem casados, baladeiros, quietinhos e todos os outros estados da Condição Humana.

Escolher um idiota assim como contraponto de uma matéria onde um casal só quer viver sua vida e ser feliz é algo malicioso. É gerar polêmica artificial. Green seria contraponto válido se a matéria fosse sobre um posicionamento gay igualmente radical e imbecil, como obrigar pré-adolescentes a namorarem meninos e meninas, para determinar sua identidade sexual.

Em um mundo ideal radicais como Green viveriam no ostracismo, mas o público já se acostumou a esse tipo de polêmica, é preciso se revoltar com algo, contra ou a favor. Brandimos o punho fechado, dizemos “que absurdo! Alguém tem que fazer algo! Mas não eu.” e seguimos com nossas vidinhas medíocres, tendo a sensação do dever cumprido.

A mídia brasileira é cheia disso. Qualquer tema sempre é “enriquecido” com a opinião de um pai de santo (mãe, se for programa vespertino), uma cartomante e um jogador de futebol. Pautam sempre quem dá mais ibope. Entre um cientista e um Ex-BBB o cientista fica de fora até dos programas do Discovery, se a pauta ficar na mão de brasileiro.

Se um tema é apresentado de forma moderada, com uma argumentação racional, é questão de justiça pautar o contraponto nos mesmos moldes. Infelizmente manter um programa ou escrever uma matéria de forma atraente, que capture a atenção do público é algo complicado, demanda talento. Já pra instigar barraco é bem mais simples, você solta no ar o xingamento, senta e fica vendo o circo pegar fogo, uma excelente forma de chamar o público de palhaço.



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