E Viva o Jornalismo-Paraquedista

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Hoje a Band conseguiu se superar, na diretiva “não mencionar marcas se não for patrocinador”. Essa mania iniciada pela Globo se alastrou e hoje até o Pânico tampa logos e marcas comerciais. Até o departamento de jornalismo se submete a isso, e como resultado a Band conseguiu noticiar por HORAS um incêndio em uma indústria em São Paulo sem citar a empresa.

Isso mesmo, o básico do jornalismo, QUEM, ONDE, QUANDO foi corrompido pela ordem de não fazer propaganda gratuita.

Curiosamente na área de tecnologia ocorre o oposto. Não só o jornalismo especializado cita marcas alegremente, como inventou uma prática igualmente desagradável: Associar desnecessariamente uma marca famosa para faturar links via SEO, polêmicas forçadas e fanboys e haters se digladiando nos comentários.

Vejam este exemplo:

A notícia é interessante, um grande veio de Terras-Raras, metais quase alienígenas como gadolinium, lutetium, terbium e dysprosium, usados na produção de semicondutores, chips, etc.

Só que não basta dizer que são elementos raros descobertos no leito do Pacífico, nem que a exploração dessas reservas é uma empreitada caríssima, que a tecnologia provavelmente nem existe e sequer é economicamente viável.

É preciso associar com algo bem hype, da moda, algo que seja bem posicionado pelos sites de busca e que os leitores possam reconhecer, mesmo que a associação seja absolutamente tênue.

Uma vez vi uma manchete na mesma linha: “iPods causam surdez em adolescentes”. Imaginei alguma agulha saindo dos fones da Apple, sei lá. Lendo a matéria, explicavam que ouvir música muito alta com fones de ouvido prejudicava a audição, e que como os jovens utilizavam muito iPods e outros MP3 players, o número de casos estava aumentando.

Escuta-se música com fones desde que Thomas Ed-Sung inventou o Walkman, em 1731citation needed. Todo audiófilo ADORA seus fones caríssimos personalizados. Todo torcedor dos anos 60 e 70 não saía de casa sem seu radinho e o fone egoísta. Walkmen, Discmen, Changemen.

Em nome de uma personalização (falsa) da notícia o jornalista prejudicou (em teoria) uma marca inteira. Ao invés de noticiar aquilo que todo velho chato sabe, “música alta faz mal”, transformou A APPLE na vilã da história. Um leitor idiota (sim, eles existem, nem todo veículo é como o Contraditorium) associaria a fonte de todo o mal à Apple, preferindo comprar um MP3 Player Sdruvs Sansa 2000, muito pior e prejudicial, mas que não foi apontado na matéria como prejudicial.

Esse tipo de jornalismo preguiçoso é muito ruim, ainda mais agora que a área comercial E a área de SEO estão dominando. É comum redações com listas de palavras-chave que devem ser utilizadas, preferencialmente nos títulos. Em breve teremos chamadas de 1a página como “Morre Itamar Franco, mas não de Mesotelioma”.

Nada contra, também adoro SANDY PELADA SEM ROUPA NUA CALCINHA RESTART ganhar dinheiro, mas é preciso manter um mínimo de objetividade jornalística, é preciso tratar a notícia com um pouco mais de seriedade do que blogs de fofoca, e olhe que os sérios aumentam mas não inventam.

Colocar um iPad no título de uma matéria apenas para chamar atenção do robozinho do Google e de leitores pára-quedistas é seguir as piores práticas dos piores blogs.

Qualquer veículo online tem dois leitores: O pára-quedista, que dá dinheiro, e o leitor real, que dá credibilidade. Qualquer estratagema dentro de limites éticos legais e morais para atrair pára-quedistas é válido, mas você nunca, nunca pode corromper seu conteúdo, do contrário o leitor de verdade, que replica, linka e comenta será afetado.

E leitor afetado só é bom para blog GLS, não que haja nada de errado nisso, claro.

PS: não, eu não sei escrever paraquedista. E nem o corretor do iPad.



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