Não há viralzinho que resista a um bom advogado

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Vejam o vídeo abaixo: Se propõe a mostrar um grupo de rebeldes africanos genéricos relaxando quando um tem a BRILHANTE idéia de dar um AK-47 para um chimpanzé.

 

Não vou entrar em detalhes sobre chimpanzés serem animais selvagens que arrancar alegremente seu rosto (não clique) e que nenhum africano que se preze deixaria um chegar perto de seu acampamento. Também não vou apontar a estranha tranquilidade do operador da câmera, contrastando com qualquer vídeo real onde há perigo de vida para o sujeito filme.

O que GRITA viral no caso é a assinatura da “20th Century Fox Research Library”. Que DIABOS um filme desses estaria fazendo na fox?

Sim, é um viral do reboot do Planeta dos Macacos, que perdeu a graça justamente por não deixar qualquer dúvida quanto à sua “viralidade”.

O culpado? O Jurídico, claro. É gritante a necessidade de uma “identificação”, já que não foi possível colocar uma nota de copyright com o nome do filme, da Fox, do diretor e o CGC da empresa de todo mundo que clicou PLAY no YouTube.

NÃO colocar qualquer identificação significaria que a Fox não teria controle sobre o viral, e na mente jurídica isso é inaceitável.

Empresas grandes passam tudo pelo jurídico, e a regra é clara: Nada pode ser feito, nada pode sequer sonhar em ter uma segunda interpretação, e nem pense em mencionar a concorrência.

Óbvio que ninguém quer colocar a empresa em maus lençóis, mas o mundo atual é ágil e colaborativo demais, não dá para tratar o consumidor como se tratavam donas de casa colecionadoras de tampa de aveia nos anos 60. A própria relação mudou, antes de consumidor o sujeito é fã da marca.

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Há empresas que utilizam os novos canais de comunicação como canais de comunicação, no mau sentido, e isso é péssimo. Um SAC engessado será sempre um SAC engessado, seja por telefone, carta, Twitter ou aquele rabo USB de Avatar. Alguns dias atrás caiu na rede o caso da Bruna Xavier, que comprou um notebook no Submarino, recebeu um tijolo, reclamou e recebeu OUTRO tijolo.

Por dias um monte de gente xingou muito no Twitter, sendo que o Submarino não abriu o bico em sua conta no popular site de microblogs (estou treinando pra escrever pro Jornal Nacional). No final o Submarino faltou a uma audiência no PROCON e jurou que em 48 horas a guria receberia mais um tijolo seu notebook.

Foi tempo demais de desgaste desnecessário. O Submarino poderia ter reconhecido a falha, mandado um grupo CORRENDO na casa da guria, devolvido o dinheiro e entregue um Vaio ou um HP topo de linha. Tudo devidamente fotografado, filmado e tuitado.

A mídia gratuita que ganhariam seria imensamente maior do que o custo irrisório (já perderam 2 notebooks mesmo…) e a imagem sairia excelente.

Só que isso nunca passaria no jurídico. Seria criado um precedente perigoso, bla bla bla.

O que passa? Quando resolvem fazer controle de danos. Exemplo: Neste caso aqui um casal comprou móveis nas Americanas. Não foram entregues. A briga parou no PROCON, no final devolveram o dinheiro. Perfeito, mas nesse meio-tempo o casal deu entrevista pra RBS, o caso iria pra televisão. Como evitar?

Fácil, você combina um calaboca qualquer, no caso R$3 mil. Eles receberiam o dimdim, mais o estorno dos móveis, em troca não apareceriam na reportagem. Perfeito? Não, há o risco do casal não cumprir o prometido.

Como evitar isso? Na brilhante cabeça do advogado das Americanas, foi enviar o acordo por email, para ser assinado.

Resultado: De provas de uma tentativa de suborno, o casal botou a boca no trombone, jogando de vez na lama a imagem das Americanas.

“ah, mas eles fariam isso do mesmo jeito” Talvez sim, talvez não, mas se o contrato fosse apenas de boca, não haveria ganho em divulgá-lo, ficaria o dito pelo não-dito.

As empresas não lidam mais com consumidores, lidam com pessoas, e a relação é de mão-dupla. É preciso que a empresa assuma riscos, coloque a cara na rua, mesmo que com isso tome um tapa ou dois.

Isso vai contra tudo que o Jurídico acredita, eles levam muito a sério sua missão sagrada de proteger a empresa a qualquer custo, mas se a empresa quer ser uma força no mundo da cauda longa, se quer uma força de consumidores-fãs engajados, tem que abrir mão de parte das barreiras que a separam desses fãs.

Nem que seja aceitar que alguém por algum motivo idiota realmente vá roubar um viralzinho de macaco.



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