Louis C.K., Velha Mídia é a Mãe e a batalha contra a pirataria

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Louis C.K. é um dos grandes nomes do stand up americano da atualidade. Em alguns medições ele atinge 450 miliCarlins. Como todo comediante do ramo ele vive de shows, DVDs e programas de TV. (Exceto o Rafinha Bastos, que agora é cantor, mas pensando bem eu disse “comediante”)

Ele (Louis C.K., não o Rafinha) tem enfrentado problemas pois a HBO não passa mais seus especiais –só prestigiam artistas da casa- e canais alterativos como Showtime e Cartoon network consideram a comédia de Louis muito controversa.

A saída foi a Internet, mas ele resolveu fazer diferente. Ao invés de se associar com um grande nome, uma grande distribuidora, ele preferiu fugir das restrições impostas por esses modelos e está distribuindo o novo show direto de seu site oficial.

Sem DRM, sem restrições, sem limite por regiões, ele diz com todas as letras: “Você pode baixar o arquivo, ver quantas vezes quiser, queimar um DVD, whatever”. A única coisa que ele pede é que você PAGUE POR ESSE DIREITO, são míseros US$5,00 por um show inteiro, gravado profissionalmente em um teatro, editado e produzido.

 

É tudo que o discurso da pirataria (diz que) pede, não? Material de qualidade (o vídeo é em HD), original, sem DRMs e outras restrições, a um preço razoável.

Não, não é o bastante:

louis

O arquivo já chegou nos torrents. mesmo com a mensagem onde Louis explica que está experimentando com um meio novo de distribuição, que não entende muito o que são torrents, mas que quer chegar aos fãs diretamente, sem o custo das corporações e intermediários, então por favor pague a porra dos US$5,00.

Nos comentários no Pirate Bay, Metafilter e outros sites todo o racional do Louis C.K., fazer “a coisa certa”, falar direto com os fãs rendeu aprovação de –se tanto- 50%.

Há gente dizendo que Louis tem patrimônio de US$5 milhões então não precisa de mais. Outros dizem que se ele editou o show por conta própria o custo foi zero –ignorando toda a produção do teatro, cinegrafistas, etc, claro- e portanto não deveria cobrar.

Também há gente dizendo que ele está fazendo isso por propaganda e que o show já se pagou antes de começar a ser vendido.

CLARO, também tem o clássico “com tanta gente passando fome”. Um fã disse que baixou o torrent e PAGOU pelo show, “vamos mostrar ao mundo que nos importamos”. Outro caiu em cima dizendo que ele deveria doar os US$5,00 pras criancinhas famintas.

Em tudo é gente justificando não pagar os US$5,00, fazendo um malabarismo moral imenso. Fosse no Brasil provavelmente diriam que está caro, usando alguma lógica como dividir o preço da TV por assinatura pelo número de horas no mês.

android_pirateO preço é o fator menos importante para a pirataria. O iPhone e o Android estão cheios de esquemas de jailbreak e market places ilegais onde o sujeito pirateia jogos de US$0,99. Alguns usam a desculpa de que querem experimentar antes, mas HELLO? Jogos têm resenhas, vídeos, no Android dá até pra DEVOLVER o programa e pegar o dinheiro de volta.

Ninguém entra de graça no cinema “só pra experimentar o filme”, você não pede uma prova num restaurante antes de pedir o prato.

A GRANDE explicação para pirataria lembra a resposta de George Mallory quando perguntaram o porquê de ele ter escalado o Everest: “Porque [o Everest] estava lá”.

As pessoas baixam filmes músicas e fotos porque podem.

Eu não compro a idéia de que pirataria estimula vendas. Simplesmente não faz sentido. TODO MUNDO que já vi comentando sobre algo pirata que baixou, quando gera interesse o interesse vem na forma de “copia pra mim”. Paulo Coelho paga e bonzinho disponibilizando seus livros na Internet, mas é um caso bem especial. Primeiro, seu grande público não está online. Segundo, sua base de leitores é grande o suficiente para que a venda em loja não seja afetada.

Há casos de quadrinhos que fracassam no offline mas são sucesso na web, justamente por isso. O autor banca uma edição física do próprio bolso mas os “fãs” preferem esperar alguém comprar, escanear e subir. 1% de pagantes é uma proporção aceitável se você tem 1 milhão de leitores, não se tem 1000.

Vejam como funciona: Meu Twitter tem 32.605 seguidores. Se eu cobrasse R$0,50 de cada um todo mês pelo (imenso) privilégio de ler as pérolas de sabedoria que compartilho diariamente isso garantiria uma renda de R$16.302,50. Mesmo que eu cobrasse R$0,20 já seriam R$6.521,00 todo mês, é um bom trocado.

leoni_lnk1Só que o mundo fora das planilhas não funciona assim. As pessoas querem as coisas de graça, estão acostumadas a elas assim. R$0,20 soa ofensivo como se eu tivesse pedido uma foto pelada de minhas seguidoras. Não que não sejam bem-vindas.

Mesmo a televisão por assinatura racionalmente pensamos no decodificador, no canal, não no conteúdo. É complicado quantificar o intangível. Essa Mais-Valia intelectual ainda é algo a ser definido.

Um excelente exemplo é o Leoni, um músico de primeira, que está aí desde sempre, Kid Abelha e Heróis da Resistência são nomes que entraram pra história do rock nacional.

Ele tem mais de 50 mil followers no Twitter e está experimentando com um projeto de crowdfunding, para determinar se consegue apenas com fãs montar um show em São Paulo.

Com tudo isso suas vendas online de músicas não são impressionantes. Tá certo que o site que ele escolheu não é nada amigável pra venda, mas mesmo assim ficam na casa de 5 downloads por semana.

Quando Leoni libera o álbum “A Noite Perfeita” para download gratuito ele atinge fácil 200 downloads em algumas horas.

Como assim, Bial?

 

Percepção de Valor

Simples, gafanhoto: Percepção de Valor. O Touchpad da HP era uma bosta de tablet quando custava o mesmo que um iPad. Não vendeu absolutamente nada. Quando foi tirado de linha e pra não sair 100% no prejuízo a HP o ofereceu abaixo do preço de custo, em alguns casos a US$99,00 ele se tornou best seller.

A música do Leoni é uma merda? NÃO, mas a percepção de valor de conteúdo midiático na Internet é ZERO. Qualquer coisa que você possa baixar de graça, sem consequências se torna cara quando o valor atribuído é acima de zero. Por isso o jogo de US$0,99 é pirateado. A percepção de valor igual todo mundo, Leoni, Beatles, Restart, todo mundo no mesmo barco, mas se o Restart começar a tocar os primeiros 5 desejarão que seja o Titanic.

Todo mundo que baixa filmes na boa se sentiria ultrajado diante da idéia de roubar um DVD pirata de um camelô. Na cabeça da gente roubar um sujeito que está LUCRANDO com um filme pirata ainda é moralmente inferior a roubar toda a cadeia produtiva que viabilizou o filme.

Radio GaGa

O experimento de Leoni em focar no download não é inédito. O Radiohead também lançou seu álbum In Rainbows como um download, sem DRM, alta qualidade. Foram até mais ousados: Usaram o sistema de Honra, você baixa e paga se quiser, o quanto quiser.

Pois bem; 2 milhões de cópias foram baixadas via Bit Torrent e outras fontes não-autorizadas, mesmo o álbum estando disponível de graça no site oficial. Fornecer um email pelo visto é preço alto demais para prestigiar sua banda favorita.

Dos downloads oficiais, somente 38% decidiram pagar alguma coisa pelo álbum. Na média o valor considerado “justo” pelo fã foi de US$6,00.

A estratégia funcionou tão bem pro Radiohead que foi abandonada. O novo álbum deles está disponível para download no bom e velho modelo pague primeiro pegue depois, por US$7,00. Quem não gostou que pirateie.

Uma banda iniciante jamais sobreviveria com números assim. Muito menos um escritor de nicho.

 

Velha Mídia é a Mãe!

A grande verdade é que a Internet AINDA é porta de entrada. Todo mundo quer um especial no HBO, todo mundo faz seu viralzinho e reza pra passar no Letterman, a música vende horrores no iTunes mas o sujeito SONHA em ser contratado por uma grande gravadora para poder fazer o circuito de shows.

Os projetos realmente independentes são poucos. Quando aparecem são devidamente hostilizados, inclusive pelos próprios fãs. Muitos consideram produção independente sinal de fracasso.

A música ainda precisa ser legitimada pela Billboard, pela Rolling Stones e pelo Grammy. Mesmo o Grammy Latino.

O blog ainda ganha prestígio quando lança um livro. De verdade, não ebook.

A Velha mídia tem o poder de massificar um produto, coisa que a fragmentação dos meios online impossibilita. Anunciar em 100 blogs não dá o mesmo retorno que uma Oprah ou uma Ana Maria Braga promovendo um livro. Mesmo políticos se sujeitam nos EUA até a programas de humor, em busca de exposição.

Quem quer viver de digital hoje precisa manter ótimas relações com a velha mídia, mandar releases educados para as redações, fazer o circuito de talk shows e rádios. Com ESCALA é possível vender o suficiente para poder desconsiderar a pirataria e dizer que ela é inofensiva.

A mentalidade de querer tudo de graça na Internet exige um esforço bem maior de massificação, pois quem vive de produção intelectual precisa atingir a minoria que ainda considera válida pagar por conteúdo. Dada a oferta de opções, a massificação via Internet é inviável.

Portanto, trate bem a Velha Mídia, se você vive de produção intelectual ela ainda é uma mãe.



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