No dia 30 de Outubro de 1938 milhares de pessoas ligaram desesperadas para polícia, bombeiros e vizinhos. Elas haviam ouvido no rádio uma notícia assustadora: Marcianos estavam invadindo Nova Jersey.
Em uma estranha antecipação dos leitores de títulos, o pessoal foi incapaz de ouvir o programa o suficiente para entender que era uma encenação, que o programa de notícias era parte de uma DRAMATIZAÇÂO do livro Guerra dos Mundos, de H.G. Wells.
Adaptado para um roteiro de rádio por Orson Welles, a história passada na Inglaterra se tornou uma transmissão ao vivo (nos dois sentidos) de radio-repórteres observando a invasão. O resultado? Deu merda:
Em 1944 um pessoal no Chile teve a brilhante idéia de repetir a transmissão, adaptando a invasão alienígena para os arredores de Santiago. Por duas semanas avisaram da transmissão, explicaram que seria ficção, bla bla bla.
Obviamente, o pânico se instaurou com mais rapidez do que na Band depois que a RedeTV começou a dar calote. A estação levou uma multa feia, e o caso só não foi pior pois logo depois um muito pior aconteceu.
Mais precisamente no Equador, em 1949. Um tal de Leonardo Páez resolveu fazer uma versão do Guerra dos Mundos na Rádio Quito. Ficou bem legal, interromperam música no meio e tudo para anunciar a invasão alienígena. A cidade entrou em pânico (notem que estou usando direto o termo) e pessoas fugiam de suas casas, para as montanhas, como um bom clichê.
A rádio viu a cagada, interrompeu a peça para avisar que estava tudo bem, era só uma brincadeira. Sem ressentimentos, ok? OK, a população entendeu e demonstrando total compreensão cercou o prédio da rádio, ateou fogo e essa Guerra dos Mundos terminou com nove mortos e 21 presos, inclusive Leonardo Páez.
Mas e as Sereias, caraio?
AH sim, as sereias.
Tudo começou com uma idéia bem legal, original mesmo, do Animal Planet: Documentários fake.
Ao contrário daquele lixo de criptozoologia do History e companhia, com Monsterquest e outras tralhas que nunca acham nada pois PÉ-GRANDE NÃO EXISTE, a idéia do Animal Planet foi imaginar um mundo onde animais lendários existem ou já existiram.
O primeiro episódio foi com dragões, e ficou lindo. É como um documentário normal, com cientistas, pesquisas, escavações, recriações e especulação de como um animal com aquelas características poderia ter existido.
Depois dos dragões foram mais ousados e criaram um documentário sobre… sereias, desta vez envolvendo até conspirações governamentais. Trabalham antigas lendas, especularam ancestrais comuns com os humanos modernos, simbiose com baleias e até uma ligação com um fenômeno real, um ruído biológico inexplicável gravado em 1997 pela NOAA – National Oceanic and Atmospheric Administration.
O “documentário” completo pode ser visto aqui.
Legal, não? Nós nos entretemos com histórias de cavaleiros Jedi, animais falantes, visitantes do espaço, divindades que morreram para nos salvar, então não há problema em um documentário fake sobre sereias, afinal todo filme sempre assume que está mostrando “a verdade”, existe um termo chamado “suspensão de incredulidade” que significa nossa concordância em fingir que o que está sendo mostrado é real.´
Só chatos gritam “homens não voam” no meio de Super-Homem.
E só idiotas acham que homens podem voar.
Também só idiotas acham que sereias existem, que começaram a encher o saco da NOAA, exigindo que liberassem as informações sobre as sereias, afinal se passou no Animal Planet é verdade. Sério, gente com mais de 6 anos e que não sofreu privação de Oxigênio durante o parto está aporrinhando uma agência governamental atrás de… sereias.
Como resultado a NOAA, que faz pesquisas seríssimas no planeta inteiro, é um dos maiores centros de informações oceânicas do mundo, teve que publicar em seu site uma página explicando que NÃO (sua mula) “Nenhuma evidência de humanóides aquáticos jamais foi encontrada”.
Aí eu pergunto: Como pode dar certo uma Humanidade onde o voto de uma criatura que acredita em sereias vale o mesmo que o do Stephen Hawking?
