Pirandello tinha razão – ou: A Cultura dos Ofendidos Profissionais

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Se eu postar no blog que não gosto de Crioulo, prefiro Tirolez os leitores irão ler, não vão entender, clicarão nos links e perceberão que era uma tentativa mal-ajambrada de imitar o Patton Oswalt. Infelizmente você, leitor de blog, inteligente articulado e com vocabulário de mais de 200 palavras  é uma raça em extinção.

No Twitter e Facebook eu estaria balançando em uma árvore antes da tinta do post secar. Contexto não é mais necessário, hoje em dia contexto é até malvisto, atrapalha a indignação.

LER, PENSAR, PESQUISAR e então agir é lento demais para os tempos modernos, onde é preciso se indignar muito e se indignar rápido. Principalmente, não há graduação. Uma piada boba é motivo para julgamento sumário e execução imediata. Lembra o episódio de Star Trek com uma sociedade perfeita e sem crimes, pois todo dia ALGUM crime, ou mesmo contravenção menor era punida com morte.

 

Hoje a indignação das pessoas é mais importante do que o motivo, e se a origem da indignação não for real, azar. PODERIA ter sido. É uma forma paranoica de se viver, num nível que Orwell diria pra baixarem a bola.

Nos últimos dias tivemos um show de casos assim. Um dos melhores foi por causa deste twit do Exército dos EUA.

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Mal-traduzindo, “Rachaduras na armadura física e digital das operações especiais geram desafios”.

A expressão “chink in armour” é bem antiga, provavelmente surgiu uns 5 minutos depois de inventarem a armadura. só que para entender o significado de chink = rachadura, fenda, in = na e armour = armadura, blindagem, é preciso um mínimo de conhecimento do idioma, e estamos lidando com a Internet.

Eu sempre defendi que a salsinha típica comentarista de portal e hoje usuário de twitter é incapaz de interpretação de texto. De leitores de títulos viramos leitores de palavras-chave, e na cabeça deles CHINK só tem um significado: Termo pejorativo para se referir a chineses, popularizado durante a Guerra da Coréia. Motivo? Olhos apertadinhos.

Como os retardados só conseguem ler por palavras-chave e todo termo só tem UM significado, entenderam que “japas (melhor pejorativo pra chinês) de armadura ameaçam o exército”, ou algo assim.

O Twitter obviamente chilicou.

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O sujeito acima, que provavelmente faz parte da Fundação Ching-Dong Ding Dong para Sensibilidade com Orientais Ou Sei Lá foi só um dos vários que acharam o termo racista, sendo que a expressão fenda na armadura foi criada SÉCULOS antes da Guerra da Coréia.

Equivale a alguém reclamar que sangrar o burrinho é crueldade com animais, ou um gráfico sangrar o bromuro da boneca constituir transfobia, ou você ter um criado-mudo em casa é classicismo mas por outro lado parabéns por empregar deficientes.

O mais engraçado é que ao invés de dizer “vai pro inferno seu retardado aprenda seu idioma antes de encher o saco”, em no do Politicamente Correto o exército deletou o twit e alterou o título da matéria.

Obviamente não adiantou. Teve gente reclamando que não pediram desculpas.

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Ou seja: Não basta você não ter feito nada de errado, não basta alguns retardados analfabetos sem vocabulário não entenderem o básico de seu idioma, agora você tem que pedir desculpas pelo que não fez?

(Nessa hora você leitor de longa data sabe que piora, né?)

A nova polêmica envolve isto aqui:

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Como todo mundo sabe é uma referência ao final This Is Spinal Tap, de 1984. Rockão de raiz. Em uma cena o Nigel Tufnel mostra o amplificador da banda, e os potenciômetros vão de 0 a 11, ao invés de 0 a 10 como é normal.

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Isso é muito maneiro, é muito rock and roll, OH YEAH, certo? Palmas pro Tony Cava, que conseguiu a placa personalizada pro seu BMW, viva o rock!

Não. Um sujeito chamado Johnny Ken Dixon entrou com uma reclamação formal junto ao DETRAN de Washington, dizendo:

“Eu acho de péssimo gosto que o grande Estado de Washington emita uma placa que permita ao motorista insinuar ao público que seu pênis cresce até 11 polegadas de comprimento. O resto dos cidadãos de Washington não deveriam ser expostos a essa vulgaridade.”

Você vê Spinal Tap, o sujeito vê pirocas. O caso foi a julgamento em um comitê que existe somente para isso: Atender ofendidinhos com placas de carros. Felizmente dessa vez o Rock venceu e a placa ficou.

Em Teoria da Comunicação existe o conceito de que se a mensagem não foi entendida a culpa é sempre do emissor. McLuhan obviamente não conheceu comentaristas de portal twitteiros histéricos e autores de textão do Facebook.

A mensagem pode SIM ser mal-entendida, ainda mais quando o receptor é neurologicamente indistinguível de fungo de geladeira. Tipo o pessoal protestando contra esta campanha.

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Nada de errado, correto? Mensagem simples e direta. Bzzzt não exatamente. Os batráquios com o mesmo vocabulário das coisas que crescem no meu umbigo, a brigada que quer salvar o mundo neutralizando gênero e escrevendo “amigxs” chilicou.

Dizem “não sou tuas negas”, acharam o possessivo “nossas mulheres” ofensivo. Dizem que não são propriedade de ninguém.

Aì eu pergunto. O SEU PSIQUIATRA é propriedade sua? O SEU CHEFE é sua propriedade? Se para cada minha esposa existe um meu marido, quem é dono de quem? Se eu falar a MINHA Luciana Vendramini algo mágico acontece? (pausa pra testar. Não, nada.)

Quando a Dilma fala “Meu povo” somos todos dela?

Só não jogo as mãos pra cima e falo “Meu Deus”

Se a causa feminista está tão tranquila que o maior problema é mudar “nossas mulheres” para “mulheres de Curitiba” eu diria que o Paraná é a Ilha Paraíso, mas essa é a MINHA opinião, e nesse caso é só minha mesmo. Afinal, palavras podem ter mais de um sentido, mesmo que uns não queiram.



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